domingo, 24 de julho de 2011

Texto introdutório

Tenho um amigo que tem o costume de vagar pelas bibliotecas em busca de qualquer coisa que chame sua atenção. Como ele conhece meu blog, ao ler um capítulo de um livro acabou lembrando-se do meu trabalho.

O texto será aqui reproduzido e deve ser tomado como uma singela homenagem (também humorística) aos ateus autores de pérolas.
Em verde pequenos acréscimos e em azul as pequenas mudanças feitas por mim.

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A propósito da imbecilidade
Ao dizer à repórter de Le Fígaro Magazine “Il y avait déjà dês imbéciles du temps de l’homme de Neandertal”, Umberto Eco fez uma boutade, uma tirada de fácil entendimento, quando se sabe que o Homo sapiens neanderthalensis habitou a Terra ainda outro dia, entre 230 mil e 30 mil anos antes do presente, e foi contemporâneo daquele que teve o descoco de se intitular Homo sapiens sapiens.

Já se encontraram fósseis do homem de Neandertal na Espanha, Alemanha, frança e Israel. A primeira ossada foi descoberta no Vale do Neander, em 1856. Sabe-se, hoje, a partir de uma flauta esculpida em osso de urso, que o neandertalense gostava de música e conhecia a escala musical básica. Foi o primeiro hominídeo a enterrar os seus mortos, podia chegar a 1,70 m, era de compleição robusta e tinha a testa proeminente, nada muito diferente de alguns H sapiens sapiens testudos que se vêem por aí. Acredita-se que o homem de Neandertal tivesse rudimentos de linguagem e ainda está em discussão se chegou a misturar-se como o homem moderno, cerca de 40 mil anos atrás.

A imbecilidade, qualidade ou estado de imbecil, que não deve ser confundida com retardamento grave, situado entre a idiotia e a debilidade mental, de que fala a psiquiatria clássica, é contudo muito anterior ao Homo sapiens neanderthalensis. Remonta a uma criatura de aparência simiesca que, há 30 milhões de anos, segundo Roger Fouts, começou a aventurar-se para fora das árvores, dando origem aos grandes primatas atuais – chimpanzés, gorilas, orangotangos e nós outros.

Imbecilidade é burrice, estultice, camelice, cretinice, asnice, tolice, processo de estultificação, parvoíce, burriquice – sinonímia extensa, como enorme, gigantesco, fenomenal é o número de estultos. Já na Roma dos césares, ou mesmo antes dela, era sabido que “Stultorum infinitum est numerus” – o número de tolos é infinito.

Este capítulo deveria chamar-se “filogênese da imbecilidade”, não fosse o risco de o substantivo filogênese, “história evolucionaria das espécies”, também merecer a tacha de imbecil. O período de 30 ou 40 milhões de anos passados nas árvores, pelos ancestrais da criatura de aparência simiesca que se aventurou no chão há 30 milhões de anos, pode ter sido muito útil para desenvolver dedos preênseis, visão binocular, crânio que se arredondou e cérebro que aumentou, que permitam ao avozinho do nosso avozinho caçar insetos arbóreos, rãs, lagartos e cobras com perfeita noção de profundidade, proporcionada pela visão binocular, sem correr o risco de se esborrachar num tombo de muitos metros de altura.

A história evolucionária da espécie é a história da sobrevivência dos mais aptos, o que absolutamente não quer dizer que seja a história dos menos imbecis. Até pelo contrário, a mesma imbecilidade que se vê hoje em dia, em todas as esferas, em todos os países de todos os continentes, onde o mínimo que acontece é a milícia talesbã dar com os costado na idade média, sérvios e croatas, judeus e árabes, tutsis e hutus matando-se feito bichos, quando os próprios bichos não têm requintes de crueldade – é tudo conseqüência da imbecilidade generalizada: “la sottise est um Don largement réppandu”(a tolice é um dom largamente difundido), disse Eco na mesma entrevista.

Que dizer dos programas de maior sucesso, aos domingos, em todas as redes de TV aberta? Que dizer das vendas dos livros esotéricos e de auto-ajuda? Que tal a chamada “representação popular”, povo elegendo povo para as câmaras e assembléias? E o fenômeno religioso “lato sensu”? E as barbaridades cometidas em nome das diversas religiões? E os genocídios cometidos pelos materialistas em prol de um mundo melhor? E o farsante “discurso racional” dos ateus?

Roger Fouts pretende que os macacos do velho mundo se tenham apartado do tronco original há 25 milhões de anos, deixando a família dos hominídeos – chimpanzés, humanos, gorilas e orangotangos. Há 15 milhões de anos foi a vez dos orangotangos; depois, apartaram-se os gorilas há 9 milhões de anos, deixando que chimpanzés e humanos caminhassem juntos até 6 milhões de anos atrás, o que explica a identidade de 98,4% de DNA entre os emergentes da Barra e os chimpanzés do zoo do Rio. Já os gorilas se diferenciam, tanto dos humanos como dos chimpanzés, em 2,3% de seu DNA, enquanto o orangotango tem 3,6% de seu DNA diferentes dos humanos e dos chimpanzés: “apesar de todas as aparências exteriores, o parente mais próximo do chimpanzé não é o gorila nem o orangotango, mas o ser humano” conclui o psicólogo que ensinou a chimpanzé Washoe a suar a ASL, linguagem norte-americana de sinais.

Em 1960, quando a etologista britânica Jane Goodall informou a Louis Leakey que os chimpanzés, em estado selvagem, estavam fazendo a usando ferramentas, o antropólogo e arqueólogo coçou a cabeça e caprichou na frase que ficou famosa: “agora teremos que redefinir ferramenta, redefinir homem ou aceitar o chimpanzé como Homem”.

Vivendo em bandos dominados pelo macho-alfa, o mais forte e mais feroz, nossa evolução privilegiou a imbecilidade. Seria a mesma coisa que selecionar, hoje, para doadores das centrais de inseminação artificial humana, os campeões de boxe, ou de uma luta chamada full contact. Machos mais fortes tendem a produzir filhos mais fortes, nunca menos imbecis.

É verdade que Gene Tunney (1898-1978), quando encerrou sua carreira, em 1928, como campeão mundial de boxe, já fazia palestras sobre Shakespeare no circuito universitário americano. Foi só a exceção para confirmar a regra da imbecilidade do macho-alfa.

Assim também como a seleção feita com base no mais bonito e, nem por isso, menos imbecil. As novelas da televisão estão cheias de machos bem-apessoados, com equipamento mental no limiar da oligergasia, que não consta no Aurélio mas é sinônimo de hipofrenia, oligofrenia, debilidade mental. Mesmo enveredando pela nomenclatura psiquiátrica, deu para o leitor entender.
Tartarugas, enguias, atuns, baratas, morcegos e caramujos são casos de adaptação vitoriosa, sem deixar de ser imbecil. O inseto conhecido em inglês como cockroach, do obsoleto cacarootch, derivado do espanhol cucaracha, tem 350 milhões de anos e continua sendo uma barata. Os morcegos têm 60 milhões de anos sem deixar de ser morcegos. E o atum nada a uma velocidade regular de 15 km/h, por um período de tempo indefinido, sem nunca deixar de se mover. Estima-se que um atum de 15 anos tenha viajado 1,6 milhões de quilômetros, o que não exclui o risco de ser transformado em salada, ou pasta de atum.

Este blog é uma recolhença, não de produtos agrícolas, mas uma colheita das tolices publicadas por ateus no dia a dia em seus sites, blogs e demais meios de comunicação.

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REIS, Eduardo Almeida. Burrice emocional. Rio de Janeiro, Espaço e Tempo, 1998. (cap. 1 - adaptado)